Medicalização da vida cotidiana
Você sabe o que é a medicalização da vida cotidiana?
É uma expressão que surgiu na atualidade em prol de problematizar a medicalização acentuada nos dias de hoje.
Os manuais de doenças mentais foram incorporando cada vez mais “transtornos” e fazendo com que diversos comportamentos sejam taxados e enquadrados dentro de um diagnóstico, por meio do qual ainda costuma-se propor um tratamento à base de medicação!
Com efeito, é raro as pessoas saírem de consultórios psiquiátricos sem a receita de um ansiolítico, antidepressivo ou até de ritalina.
A questão é que se medica comportamentos e sintomas. No entanto, é preciso levantar, mais uma vez, a pauta de que tem sempre algo por detrás deles.
O sintoma muitas vezes é uma solução singular que um sujeito encontrou para lidar com suas questões. Não é tratar a pessoa do sintoma, mas PELO sintoma, entendendo o lugar dele na história de cada um.
Logo, os excessivos diagnósticos e remédios tem buscado padronizar cada vez mais os “modos de ser” de cada um, apagando a subjetividade de cada sujeito e o lugar do seu sofrimento em sua história.
E o mais perigoso de tudo: muitas vezes os calando. Porque dizem saber sobre o sintoma, ao invés de abrir um espaço para que o próprio sujeito elabore sobre ele, construindo um novo saber sobre si a partir do sintoma.
É claro que a medicação tem o seu lugar em muitos casos, normalmente para amenizar um sintoma que está muito intensificado, funcionando como uma “muleta” para facilitar o processo de uma possível cura. Mas isso não deveria deixar o tratamento pela palavra de lado! Não há tratamento na saúde mental só pela via da medicação!
Ora, é preciso abrir o olhar para a forma indiscriminada que as receitas têm sido prescritas. Por isso que se trata de uma medicalização da vida cotidiana - porque tudo se tornou medicável, incluindo questões que tem seu lugar nos acontecimentos do dia-a-dia.
Uma pessoa não é deprimida porque está triste há 30 dias...O que aconteceu nesses 30 dias? O que ela tem a dizer sobre isso? Qual o ponto que essa tristeza toca?
Todo caso exige uma elaboração singular! E o perigo da medicalização da vida cotidiana é a tentativa de padronizar!