Neurose Obsessiva: tudo para o outro
Atualizado: 1 de ago. de 2019
A Neurose Obsessiva (N. O.) é um dos tipos clínicos da estrutura Neurose (o outro sendo a Histeria), que é uma estrutura no sujeito (e não do sujeito).
É uma das estruturas para se pensar o funcionamento do inconsciente.
Importante marcar, primeiro, que Neurose Obsessiva não tem nada a ver com TOC ou outras formas de pensar o comportamento, é um modo de pensar o inconsciente, no que diz respeito ao desejo do sujeito.
Como colocado no post sobre Histeria, a Neurose Obsessiva é um dialeto dela, ou seja, como também é uma Neurose, o seu desejo sempre vai ser o desejo do Outro, comportando um enigma de “o que queres?”.
A relação com o desejo é um ponto, assim sendo, que articula a N.O. com a Histeria.
Mas na Histeria o desejo é do campo da insatisfação, já na obsessão é no campo do impossível, havendo uma inibição quanto ao ato: “tem a faca e o queijo na mão, mas não age”, suspende o ato, a execução, adia/posterga o ato e as decisões.
Há, portanto, um enrijecimento e uma dificuldade do sujeito de sair do lugar.
Existe, então, um embargo do desejo na N.O., isto é, começa mas não conclui. Eis um desejo, portanto, que se apresenta postergado (mas não anulado). Há uma idéia, com isso, de que o sujeito obsessivo está sempre “a espera de” algo. Há, também, uma espécie de não autorização quanto ao que se deseja: deixa por perto, mas, como colocado, adia o encontro.

Algo do desejo é cortado, um pedaço que não é dito, que fica do lado de fora. O que causa isso é um atamento muito forte com a demanda, ou seja, fica preso à demanda do Outro: “tudo para o Outro”. Ele identifica, portanto, a falta do Outro com a sua demanda, resultando que a demanda do Outro assuma a função de objeto em sua fantasia.
Assim sendo, a falta do N.O. é o tempo todo a demanda do Outro, mas a demanda não é só a do Outro, é também sua própria demanda como via de mão-dupla, e acaba que o sujeito goza com esse embaraço.
Em vista disso, muitos obsessivos (mas não todos) possuem um traço marcante de excesso de controle, sendo sujeitos muitos metódicos, pois o controle é, em última instância, um tributo à demanda: uma forma de bancar a demanda e adiar o desejo.
Há, além disso, uma marca muito evidente da dúvida: “o que eu valho para o Outro?” “o que o Outro pensa de mim?”
Importante que o obsessivo se interrogue o que ele é para o Outro, diante do Outro, que posição ele ocupa, para saber, também, o que quer diante daquilo que deseja, se tornando essencial a articulação do desejo para poder situá-lo.
Fica essa reflexão da estrutura clínica na Neurose Obsessiva para pensar o tratamento analítico, que não tem nada a ver com mudanças comportamentais, e sim baseado em uma escuta que coloque o sujeito para pensar sobre essas questões, com a tentativa de tirá-lo desse emaranhado sobre a demanda, dentro do que for possível, para pensar sua relação com o desejo.