Produtividade e "Ritalina"
Atualizado: 1 de ago. de 2019

Hoje vivemos em um mundo de rápidas mudanças que se transformam incessantemente!
Podemos dizer, de acordo com alguns sociólogos e filósofos como Bauman e Lipovetsky, que a lógica do mundo virou outra e alterou nossa relação com o tempo, já que temos que estar o tempo todo nos transformando também para acompanhar as transições sociais!
Atrelado à isso, temos um mundo voltado para o consumo, da lógica capitalista, que cobra de sermos produtivos o tempo inteiro!
Tornou-se, portanto, um desafio: não só acompanhar as transformações, mas fazer isso com produtividade, para alimentar a sociedade com produtos e serviços e fazer com que a roda do consumo continue girando!
Vale repetir, como falei na reflexão sobre trabalho e vida, que o trabalho tornou-se alienado: objetifica o trabalhador colocando-o na via do não-sentido! Isto é, o trabalho passou a ser voltado para a produção que utiliza do sujeito para tal, e não o sujeito que utiliza do trabalho para se realizar, criar e inventar (não podemos generalizar como algo para todos, mas pelo menos algo para a maioria)!
Sendo assim, a lógica do consumo dominou o modo de ser no mundo, o que inclui também a vida profissional: o trabalho perde sua essência sendo voltado para o consumo!
Então cobra-se mais ainda das pessoas em produzirem, separando os produtivos dos improdutivos, e julgando-as a partir disso ao mesmo tempo que almejam tempo de não-trabalho para viver o ócio (paradoxal, não é mesmo?)
Nossa sociedade, dentro dessa lógica, também passou a ser imediatista, o que significa que as pessoas querem tudo na hora, sem paciência para esperar e sem quererem se esforçar: o tempo passa rápido então é precioso, mas também almejam tempos livres do trabalho já que o trabalho se tornou sem sentido!
Esse paradoxo é muito complexo e junto com a lógica do discurso científico que busca tudo resolver e responder, vai oferecer às pessoas rápidas soluções para seus problemas, que muitas vezes se resultam em: medicações!
Eis o mundo dos hiperativos que precisam de remédios para serem produtivos! Nunca houveram tantos “casos” de hiperatividade.
A impaciência, agitação e falta de foco ganhou um nome: transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)- classificando as pessoas e oferecendo a “solução” ideal para elas... ou pelo menos vendem essa idéia de que é ideal!
Será que todas as soluções se resultam em medicação?
As pessoas querem o modo mais rápido de resolver seus problemas que nem sempre são os mais eficientes... estão muitas vezes disfarçando um sintoma que tem algo por detrás que deveria ser trabalhado mas que é calado!
E será que resolve mesmo?
Na maior parte do tempo esses medicamentos vendem a ilusão de uma resolução, não sendo algo realmente efetivo!
As pessoas precisam entender que nem tudo é falta hormonal, nem tudo é biológico!
A maioria das nossas questões devem ser faladas e ressignificadas, encontrando um sentindo para isso e procurando nos conhecer melhor!
Mas claro, o resultado imediato desse processo não é claro, então são raras as pessoas que querem bancar uma espera!
Fica aqui uma reflexão sobre como a sociedade produtiva e imediatista interfere até no modo de resolvermos nossos problemas!
Pensando no post que falei sobre drogas, será que a droga como remédio também pode ser pensada como um modo de não saber sobre nossas questões? Já que é mais fácil tamponar um sintoma do que saber mais sobre ele e sobre sua causa? Fica a reflexão.
Claro que existem casos em que a medicação se faz necessária, mas não se iludam, há muito mais prescrições do que se faz necessário!
Há um excesso de, principalmente, crianças sendo diagnosticadas com TDAH e sendo medicadas com altas doses de ritalina!
Muitas vezes estão vivendo algum momento angustiante da infância e só precisam de um espaço para falar sobre isso!
Para a psicanálise, inclusive, esse diagnóstico nem existe, trata-se de um sintoma com algo por detrás!
Vale pensar, ademais, que a indústria farmacêutica é uma das mais poderosas do mundo e não se enganem....o que ela quer é vender seus remédios e faturar!
Há muitos médicos que infelizmente são antiéticos e comprados por essa indústria para prescrever determinado medicamento! Vamos ficar atentos à isso para não sermos reféns de mais um produto do capitalismo!
O capitalismo faz parte de nossas vidas e precisamos aprender a lidar com a lógica que ele nos coloca, não é nos segregar dele porque isso também é ilusório, mas é sobre conseguirmos refletir sobre certas questões e pensar um pouco fora da caixa para sermos mais humanos e menos objetos ou, colocando de outra forma, para sermos menos passivos do que se passa com nós e de como a sociedade e as “modas” do momentos nos impactam!