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Psicanálise X Psicologia X Psiquiatria

Atualizado: 13 de ago. de 2019

O intuito dessa reflexão é transmitir informações a respeito das diferenciações de atuação clínica na psicologia, psicanálise e psiquiatria. Hoje, muitas pessoas ainda têm dificuldade de entender essa distinção e, inclusive, têm pouco acesso a informação à esse respeito. Em vista disso, resolvi explicar melhor!





A psicologia é o estudo do ser humano, de sua subjetividade, comportamentos, relações e psiquismo. É uma profissão que pode ser praticada em qualquer lugar onde há pessoas: organizações, escolas, instituições, comunidades e no particular: clínica/consultório. Dentro da psicologia existem diferentes teorias e abordagens para poder se pensar as questões do ser humano e formas de tratamento. Hoje, mais ainda, existem inúmeros tipos de psicoterapias que foram nascendo de diferente linhas e só se pluralizando cada vez mais. Mas, pode-se dizer que as pilares são: psicanálise, humanista-existencial, sistêmica e comportamental. São teorias que partiram de diferentes pensadores e de diferentes formas de enxergar o ser humano, mas todas com um objetivo comum: de levar saúde mental às pessoas em sofrimento psíquico. A psicologia é uma área de conhecimento recheada de inúmeras reflexões, teorizações e ensinamentos que partem de pontos diferentes. É uma área muito complexa, já que o ser humano e a mente humana são complexos. Por isso, tantas abordagens para se pensar essas questões.


A psicanálise nasceu antes da psicologia com Freud, que era neurologista e começou a perceber como certas doenças não tinham causas biológicas justificáveis e sim psíquicas e, mais ainda, inconscientes. A particularidade da psicanálise é que ela estuda o inconsciente, o que vai mudar completamente a forma de enxergar o psiquismo humano e de tratá-lo também. A escuta psicanalítica é uma escuta essencialmente do inconsciente. E o inconsciente é aquilo que está por detrás de tudo em nossa vida – escolhas, desejos, fantasias, ilusões, insatisfações, angústias, sofrimentos, dificuldades, repetições… – e que vai nos atravessar o tempo todo e, assim, moldar a nossa vida. O inconsciente é formado pela linguagem e tudo que é traumático para nós é mantido lá. Ou seja, o consciente recalca (manda de volta) pro inconsciente aquilo que é traumático para nós como uma forma de defesa. Entretanto, o inconsciente quer sempre se manter consciente, então ele arruma meios para deixar que algo escape por meio da fala. Pode-se dizer que o inconsciente é o estranho que habita os espaços mais familiares em mim. É aquilo que fala em mim, que eu não conheço, mas que me atravessa e me faz tropeçar e mancar. É como uma pedra no meio do caminho, mas uma que não dá para tirar. Precisa-se aprender a lidar com a pedra e enxergá-la como uma parte do caminho! E a psicanálise vai partir disso para moldar toda sua teoria e prática.


A diferença acadêmica que se dá entre psicologia e psicanálise é que a psicanálise, apesar de ser estudada na psicologia e transmitida nos ambientes universitários como uma abordagem da psicologia, é uma teoria independente. Para se tornar psicólogo requer uma graduação em psicologia e um inscrição no conselho regional. Já, para se tornar um (psic)analista, requer um tripé: estudos teóricos, própria análise e supervisões de atendimentos com outros (psic)analistas. Os estudos teóricos são estudados em escolas e instituições (muitas vezes sem fins lucrativos) que se dão após qualquer graduação. A pessoa precisa ter o desejo de estudar psicanálise e participar em processos de seleção dessas escolas e instituições para se ingressas nelas. Mas elas não são como uma universidade, a proposta é de outra forma de ensino. E a formação em psicanálise é algo sem fim, que requer constantes estudos, supervisões e sua própria análise em tempo indeterminado. É uma forma de atuar na clínica que requer manejos por toda a vida profissional. O psicanalista se forma, principalmente, se engajando em sua própria análise. Além disso, é necessário um desejo de análise, isto é, não é só querer ser psicanalista, é mais que isso, é necessário um desejo de analisar um sujeito para que o processo ocorra. Importante marcar que existem psicólogos que, quando fazem a escolha pela psicanálise, migram para essa área. Mas não quer dizer que todo psicólogo é psicanalista e vice-versa. São coisas independentes.


Um psiquiatra, por fim, é um médico (alguém que cursou Medicina) e que depois fez residência em psiquiatria. Acredito que também existam diversas teorias e formas diferentes de atuar nessa área. A diferença fundamental é que o psiquiatra pode medicar, diferentemente do psicólogo que, quando acredita que é necessário medicar um paciente, precisa encaminhá-lo para o psiquiatra. Isso se dá pois o psiquiatra estudou farmacologia, como também mais um lado biológico das questões psíquicas. E a medicação é algo complexo que afeta todo o corpo (não só a mente) do qual deve-se ter um imenso entedimento sobre. Como a psicologia não se concentra nesse entendimento, é uma possibilidade que se tornou exclusiva da psiquiatria. Após a graduação, um psiquiatra pode escolher se ingressar na clínica psicanalítica e continuar seus estudos voltados para essa teoria. Existem, assim sendo, psiquiatras que são psicanalistas.


Importante levar essa informação às pessoas porque é um direito de todos entender mais sobre saúde mental e as formas de tratamento, até para auxiliar na escolha do tipo de tratamento que deseja. Existe de tudo pode aí, é muito importante entender isso. Existem inclusive, profissionais que misturam certas teorias em seu atendimento. O que, particularmente, acredito ser uma forma equivocada de atuar na clínica. O ser humano é muito complexo, acredito que todas as abordagens e teorias de saúde mental possam contribuir de formas diferentes. Todas podem ter algum benefício, e cabe ao paciente escolher o tipo de tratamento desejado. Mas um profissional que muda a forma de trabalhar constantemente é algo insustentável, pois requer muitos estudos e dar conta de todas teorias é algo utópico e ilusório. O profissional pode ter uma noção basal de diversar teorias, mas saber a fundo ao ponto de atuar na clínica é algo difícil de sustentar em tantas teorias que pregam, muitas vezes, ideias tão divergentes! O profissional de saúde mental deve escolher a teoria que irá guiá-lo na clínica e que vai servir como um fundamento para seus atendimentos a partir de seu desejo e daquilo que acredita fazer mais sentido (para si próprio). É assim que deve ser e o sujeito, enquanto paciente, também deve escolher o tratamento que acredita fazer mais sentido para si próprio. Enquanto psicóloga e psicanalista, eu defendo sempre a psicanálise, pois, PARA MIM, é algo que acredito fazer mais sentido e algo que eu sempre sustentarei na minha clínica. E não pregar isso na minha vida seria inconsistente com a forma da qual escolhi para enxergar as questões em torno da saúde mental!


Existem pessoas que vão criticar a cientificidade dessas questões, por isso também é importante marcar que métodos científicos clássicos de avaliar tratamentos e resultados é algo insuficiente para dar conta de medir efeitos tão subjetivos e abstratos quanto o do psiquismo humano e, mais ainda, do inconsciente! Por isso, a psicánalise e algumas outras teorias de saúde mental escapam os métodos de medição científicos, mas isso não quer dizer que os tratamentos não são efetivos! Até porque os efeitos serão particulares na singularidade da vida de cada um, não sendo algo generalizável!

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